O dia estava nublado o que dava uma aparência árida ao parque
de arvores longas. Uma brisa gelada produzia um baixo assovio que viajava por
entre as arvores, mas ninguém escutava apenas o Senhor Davi. Eram poucas as
pessoas que visitavam o lugar, alguns mais do que gostariam. O chão estava
lamacento graças à fina chuva que caíra perenemente a noite toda. O senhor Davi
saboreava aquele lugar. O vento, as arvores e até o céu cinzento, dava uma
aparência poética ao lugar, na opinião dele.
Uma lagrima escorreu pelo seu nariz e foi sugada pela terra
assim que tocou o chão. Depois da primeira ele não conseguiu conter mais
nenhuma. Ele tentava, mas era inevitável sentia falta dela, mesmo depois de
trinta e cinco anos. Casou-se cedo e a perdeu cedo, cedo de mais em sua
opinião. O coração acelerou e ele sentiu os músculos da faringe incharem
dificultando a passagem do ar. Seus longos e morenos dedos tiraram do bolso do
casaco uma pequena bombinha. Sua mão tremia, mas não o suficiente para
impedi-lo de aspirar o remédio.
O coração acalmou-se.
Davi olhou em volta. Aquele lugar se tornara para ele um
lugar de paz tranquilidade. Seus filhos diziam, nos primeiros quinze anos após
a morte da mãe, que era mórbido o pai sentir prazer em passar horas em um cemitério,
mas com o passar do tempo aceitaram que ele estava feliz, era a maneira que ele
achara de continuar vivendo com sua amada. Quando eram crianças seus filhos o
acompanhava. A pequena Lucia sempre levava uma carta com desenhos e suas
primeiras frases escritas sozinhas. Davi sempre as queimava, sem ao menos
lê-las, “São segredo meus e dela, coisas de menina!” Lucia ralhava sempre que
ele ameaçava abrir uma ou outra. Amanda sempre o obrigava a comprar flores de
todos os tipos e cores, a menina tomara para si a missão de tornar o tumulo da
mãe o mais belo e colorido daquele lugar cinzento. Bruno não gostava de ir, aquilo
só aumentava sua dor. Ele era o único que tinha idade para se lembrar do corpo
da mãe dentro do caixão, Davi sempre tentava fazer algo diferente para que ele
fosse, mas o garoto se fechava dentro de si. Davi o abraçava e deixava à
escolha do filho. Mas naquela manhã estava só. O tempo passou e as três
crianças cresceram e começaram a ter seus próprios problemas, suas próprias
batalhas.
Ele olhava fixamente para o bloco de mármore cravado no chão.
Ele lhe falava palavras que podiam ser ouvidas apenas pelo coração.
Tereza G. Bruno
*1949 +1979
Sempre que estava ali ele fechava os olhos e se lembrava da
linda mulher que ele chamara de esposa. A pequena foto incrustada na pedra
branca mostrava uma linda mulher, tinha bochechas rosadas, lábios finos, olhos
negros e cachos dourados. A ela Davi entregara a vida. Por isso aquele lugar
não lhe trazia um gosto amargo à boca ou um vazio na barriga. Ali estava com
ela. Embora sempre a visitasse Davi viveu uma vida feliz, feliz para seus
filhos e para ele. Essa fora a maneira que achara de honrar tudo o que
prometera quando lhe disse sim no altar.
O vento soprou gelado fazendo um calafrio percorre sua
espinha. Ele aconchegou a lapela do palito quadriculado, arrumou a boina marrom
que escondia sua calvície e fincou o guarda-chuva no chão abrindo um profundo
sulco na lama.
-Ela era bem bonita! –Disse uma doce voz feminina. A dona da
voz se aproximou sem que o velho notasse.
Davi a esquadrinhou de cima a baixo. A jovem na casa dos
trinta anos tinha um rosto pálido com feições delicadas, lábios rosados e
miúdos, seus olhos eram cinzentos e profundos, como se já tivessem visto muito
mais que três décadas. Seus cabelos negros caiam sobre o ombro como uma
cascata. Ela vestia um vestido feito com um tecido de veludo negro com detalhes
dourados na curvilínea cintura.
-Era sim. –Ele sorriu após responder carregado de orgulho.
–Lembro-me de seus sorrisos como se fosse ontem.
-Era feliz? –A voz da mulher era doce e reconfortante.
-Sou feliz! Mas ao lado dela era muito mais que isso.
-Sabe? O maior defeito do ser humano é a eterna busca pela
felicidade.
-Ela não é achada. –O velho sorriu e assumiu um tom mais
amistoso, como se já conhecesse aquela mulher de outros tempos.
-Não! A felicidade não existe, não antes da morte. –Ela fez
uma pausa para expor melhor seu pensamento. –O Ser humano experimenta bolsões
de alegria, um sentimento semelhante, mas passageiro.
-Eu sou feliz.
-Sim, e agora será por toda a eternidade.
-Quando te vi ao lado de Tereza há anos você tinha uma
aparência sombria e agora a vejo bela e simpática, não a temo por quê?
-A morte tem muitas faces. O fim sempre é o mesmo, mas as
formas de partir são diferentes. Sou bela e amistosa para aqueles que cumpriram
sua missão. Sou sombria para aqueles que se descuidaram e receberam minha
visita repentina. Sou cruel apenas com aqueles que ceifam a própria vida.
Um silencio se fez entre eles, ambos ficaram a observar a
lapide de Tereza.
-E para ela? Foi sombria ou bela como esta agora.
-Ela achou que eu era um dos altos anjos do senhor. –Davi
sorriu mais uma vez.
-Então? Chegou minha hora?
-Não. Não se preocupe, ouvira liras tocando quando ela chegar.
-Então caminhe comigo velha amiga e conte-me mais sobre seus
caminhos.
A mulher de cabelos negros caminhou com o velho como se fosse
sua neta. Segurou-o pelo braço e caminhou pela alameda principal que levava à
saída do cemitério.
Por coincidência ou Perspicaz manobra
do destino Amanda levou a filha para lhe dar um beijo, já que a escola era
próxima da casa do avô. Lucia e Euron, seu marido. Foram mostrar o netinho que
dentro de três meses viria ao mundo. Bruno passou à tarde com o pai tomando
café e falando sobre a vida e as dificuldade impostas por ela.
-A vida é como uma bela rosa, sempre terá espinhos que irão
machucar sua mão, mas se não descuidar da planta ela ira florir e produzirá
flores mais belas.
-Andou lendo de novo pai?
-Não! Apenas conversei com uma velha amiga.
Quando a noite caiu, Bruno adormeceu no sofá da sala. Davi se
preparou normalmente para uma noite de sono, para o mais importante deles.
Quando se deitou e fechou os olhos ouviu um barulho como frufru de um vestido, quando voltou a abrir os olhos viu um lindo
ser cercado de luz. Uma baixa melodia de lira tomara conta do lugar.
David sorriu e disse:
-Realmente pareces um dos altos anjos do senhor!
-Fim-
Plínio Rezende
É um belo conto. Só acho que você devia ter sido um pouco mais cuidadoso com a linguagem, principalmente nos primeiros parágrafos (e não estou falando de ortografia ou gramática).
ResponderExcluirbrother leia de novo!
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