Olá
leitores!
E é
sempre bom pensar que são muitos.
Já
faz um tempo que não escrevo nada e isso me dói muito. Não tenho
tido tempo, inspiração e meu computador já teve dias melhores.
Gosto muito do meu blog, o criei sem nenhuma inspiração a torná-lo
maior, mas se o universo e o tempo forem a meu favor adorarei ver
isso aqui crescer!.
Tempos
atrás eu postava todo tipo de conteúdo: contos, resenhas, raramente
algumas notícias e etc. Parei de fazer isso porque isso demorava
muito e era uma boa desculpa para mim não escrever e além de tudo
preferia postar os meus próprios contos. Mas não tenho tampo mais
então voltarei a premissa original do blog “Propagar a ideia
literária pelo mundo”, na verdade a premissa é simplesmente falar
de uma coisa que gosto muito!
Então
após seculos de escassez e escuridão voltam às páginas desse blog
histórias extraordinárias!
Estou
vendo meu castelo pegar fogo. As águas revoltas do mar lambem as
pedras do penhasco enquanto os raios riscam e iluminam o céu. A
tormenta esta vindo, ela me persegue seja qual for o século.
O
cenário podia ser facilmente outro. Eu poderia estar parada nas
areias úmidas de sangue, com a espuma da praia trazendo os corpos de
homens tombados. Eu poderia estar esbarrando com armas deixadas por
mãos decepadas e corvos cavoucando orbitas vazias a procura de mais
entranhas. Tudo aquilo poderia estar a um estalar de dedos, ou há
cinco séculos de distancia, eu já não percebia mais a diferença.
Enquanto
crianças gritavam excitadas, apontando os dedos e aparelhos
celulares em direção à construção medieval consumida pelas
chamas eu a olhava e pensava na ironia. A tempestade de verão havia
queimado a rede elétrica que levava luz ao que agora era um sítio
de visitação para turistas e culminara por atear fogo no trabalho
de restauração feito de madeira para aquele velho castelo sobre o
penhasco. Enquanto quinhentos e tantos anos atrás, eu e meus homens
nos esforçamos quase até a morte para manter a fortaleza de pé sob
a luz de tochas e o ribombar de canhões.
Quem
visse as lágrimas caindo pelo meu rosto eternamente jovem iria me
achar uma grande sentimental por se comiserar pela destruição de um
monumento histórico. Mas eles não sabiam (e nem poderiam!) imaginar
que aquela não era e nem seria a primeira ou última vez que eu
veria pedaços gigantescos da minha existência se indo com o
decorrer do breve tempo deles, não restando nada, a não ser o temor
de que, com o passar daquela prolongada vida, até mesmo a memória
também se esfacelasse. Aos poucos…como os pedaços do meu castelo
desmoronando desfiladeiro a baixo, direto para seu túmulo sob as
aguas. Iria, finalmente, se juntar aos ossos ancestrais dos homens,
aqueles que eu podia ainda ver caindo com suas espadas a nos
defender, não parando de lutar mesmo quando a morte era certa.
-Que
horror! Uma pena, estamos perdendo parte da história… – ouvi um
velho dizer ao meu lado, melancólico. Virou-se e pareceu por um
segundo surpreso por fitar meus olhos mareados. Deu-me um aceno de
cabeça e seguiu em diante, entre a multidão alvoroçada. Abri a
boca, tentando expressar o que eu sentia para alguém tão velho, ele
talvez compreendesse, com sua idade avançada, o que era estar diante
da perda. Mas as palavras não saíram, pois logo sofri esbarrões de
pessoas excitadas e percebi que a imprensa também chegara. Seus
furgões e grandes antenas de transmissão me fizeram ver como tudo
não passava de um espetáculo para seus jovens olhos fascinados.
Eu
dei as costas ao meu castelo, e para mais um pedaço de mim a morrer.
Eu não precisava vê-lo queimar até as bases, já havia perdido
coisas demais, lugares demais, pessoas demais…minhas cidades e
rios, vozes e risadas, toques a escorrer pelos meus dedos como a
areia daquela praia lambida pelas ondas indiferentes a toda sua
história.
A
imortalidade é uma maldição que eu jamais teria aceitado se
soubesse a que fim estava fadado o meu tempo ilimitado. Pois havia
muito mais morte do que vida em se passar pela vida sem morrer.
Texto: Vêronica S. Freitas
Ilustração: Gaby Firmo de Freitas
Site origina: quotidianos.com.br
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